sexta-feira, 27 de junho de 2008

Uma via chamada Meneghetti

Sexta-feira à noite. Confraternização brasiliana no apartamento cinco de um dos prédios da rua Egídio Meneghetti. A cidade é Mirano, o país?! Se reunir aos fins de semana é uma das formas que os brasileiros, que moram na Itália, encontram para aliviar um pouco a saudade da terra natal. Eles estão não só em Mirano, não só na Egídio Meneghetti, mas por várias e várias cidades do país onde nasceram seus antepassados. Cada vez é mais comum a presença de imigrantes do Brasil na Itália. Estão aqui a estudo, trabalho ou por outros motivos, como a dupla cidadania.
No apartamento da via (rua) Meneghetti, por exemplo, vivem seis jovens brasileiros. Todos com um objetivo em comum: reconhecer a cidadania italiana. Todos, com sonhos diversos. Sentir falta do Brasil é normal, mas o fascínio pela nova vida também é inevitável. Entre os conterrâneos, ou nas conversas com habitantes do local, a troca de experiência é muito grande. Na opinião de Diego Bohrer, um dos moradores do apartamento em questão, “nada melhor que uma boa conversa com la gente daqui para adquirir mais conhecimentos”. Diego está há um mês na Europa. Programou a viagem por quase um ano e chegou a Mirano, que pertence a província de Veneza, no início do mês de fevereiro. Veio acompanhando a mulher Daniela, descente de italianos. Ele, piloto de avião. Ela, formada em jornalismo pela Universidade de Passo Fundo. Com planos futuros, aproveitam para estudar o idioma enquanto aguardam a documentação. “Era uma segunda-feira quando chegamos aqui. No dia seguinte fomos até a comune, que é uma espécie de prefeitura, para dar entrada ao processo de cidadania. Uma semana depois o guarda municipal passou para confirmar nossa residência. A expectativa é que no máximo em três meses minha esposa seja uma cidadã européia”.
Só em Mirano, uma cidade de aproximadamente 26 mil habitantes, são cerca de 70 processos em andamento, fora os que já foram concluídos. Um deles é de José Mauro Padovan, 25 anos, artista e amante das artes plásticas. Saiu do Brasil há quinze dias e hoje também reside na via Meneghetti, “pelos menos nos próximos dois meses...”, brinca em clima de descontração. Zé, apelido pelo qual é conhecido, já “sentiu na pele” como é morar fora do país onde nasceu. No ano passado permaneceu oito meses nos Estados Unidos e desde então sua vontade é “desbravar os quatro cantos do mundo”, estudar e se especializar nas artes plásticas. “Em 2006 organizei toda a documentação para viajar e solicitar a cidadania na Itália. Porém, no início do ano passado surgiu um convite inesperado. Uma amiga, que está na América do Norte, me convidou para passar um tempo lá. Resultado: uma viagem que deveria durar três meses se prolongou por oito” relembra satisfeito. O artista plástico conta que, apesar de amar sua terra natal, estar fora foi muito bom para seu crescimento, inclusive artístico.
Tanto Zé Mauro como Diego confessam que não pretendem voltar ao Brasil tão cedo. Os primeiros dias longe de casa podem até ser difíceis, mas aos poucos as oportunidades vão surgindo e idéias vão iluminando os pensamentos e sentimentos desses jovens, e não tão jovens assim (afinal são pessoas de todas as idades que buscam o reconhecimento da cidadania), futuros italianos. É como aquela lâmpada mágica dos desenhos animados, a luz se ascende enchendo as cabecinhas de prósperas intenções. “Meus planos? Bem, quero permanecer aqui na Europa, trabalhar na minha profissão, usar e abusar das oportunidades”, revela Diego.
Mas voltando à história de Zé, depois de um período de estadia em Nova Iorque o artista precisou retornar para casa. “Meu visto de estudante estava vencendo e era necessário ir ao Brasil para renová-lo. Infelizmente, ou felizmente, esse processo se prolongou e nesse período ressurgiu a idéia de vir para a Itália”. O ambiente, as raízes históricas, tudo isso é inspirador aos olhos de Zé Mauro, principalmente no que diz respeito ao seu trabalho. “Não sei exatamente meu destino depois da cidadania, mas quero aproveitar ao máximo minha vida por aqui, as paisagens históricas, a rica arquitetura, etc, etc”. Talvez pelas características climáticas, talvez pela época do ano, o cenário na Itália faz jus às imagens dos mais clássicos filmes de romance.
As vantagens de ser um cidadão italiano, ter ou não direito à cidadania, as etapas a serem percorridas e o convívio local. Esses, sem dúvida, são alguns dos assuntos que mais geram curiosidades entre os brasileiros interessados. Porém, esse texto não aborda especificamente essas questões. A intenção aqui é transmitir um pouco da história e as sensações de brasileiros que vivem na Itália.

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